domingo, 17 de fevereiro de 2008

DIEGO MENDES SOUSA
Nasceu em Parnaíba, Piauí, em 1989. Começou a escrever poesia aos quatorze anos de idade e, aos dezessete, acaba de lançar o livro Divagações. Estudante do ensino médio, se intitula “leitor consuetudinário”, amante da música erudita, da pintura e admirador de Ferreira Gullar e Gerardo Mello Mourão, duas ascendências poéticas que levitam em esferas bem distintas, apontando para direções opostas... Ótimo para um jovem poeta tão reflexivo, plástico, esperpêntico. Ousado, nada trivial, não raras vezes amargo e perquiridor, sem indulgência. É a revelação de um talento que merece atenção, a quem auguramos um crescimento constante. Ele tem todas as condições, como revelou no livro de estréia. Antonio Miranda

“Diego é um poeta solitário, introspectivo e arredio por natureza. A angústia existêncial que às vezes o atormenta é revelada em “Candelabro”, poema comovente e de grande sensibilidade.” Tarciso Prado

VERTIGEM
A poesia desinfetou as entranhas
de
meu estômago

agora vomito como
restos sólidos
depois catarei essa
e
aquela
palavra

impulsarei na sintaxe
o de sobra
voltará à vertigem digestiva


VAIDADE

Esta pele morena
não é feita de ouro

O suor do corpo
contrapala
a côndea lisa:
Uma do homem presente
do tato presente

outra

Onde só os mais dotados
de sensibilidade
entenderão
a natureza-fátua e
frívola
desse homem
ainda nascente


OBSERVAÇÃO

O vento corredio passa engraçado
pelas árvores
dando-lhes os movimentos

e os pássaros
saltam
as trincheiras da brisa de outros nortes

Cantando tudo dentro de seu possível
como pardais
audíveis
por toda manhã


PECHA

Como macilenta
pode ser minha imagem?

E concluo:
não são banais
os coriscos
as nuvens
os penedos
inerentes à minha pessoa

Apenas são defeitos



CANDELABRO

Dói-me o peito
Queima-me a alma
esta solidão reclusa

Não por querer viver
nesta orla-névoa
albicante como meu rosto

Se por medo da morte

Se por medo da perda
desta vida sob velas

Uma noite...

... Não serei solidão

não serei solidão
quando o candelabro
for sereno
ao apagar-se

SINA

Libertei-me
da revelia
indivisa
de indivíduos
pródigos

engrenando
dentro
da afabilidade matinal

Freme
no sabor
prateado
de estar vivo

a clamar
a exortar
a ascensão
de um poema
de uma flama
no elevadiço interior
onisciente
e díssono

que ata
o poeta
pelo pescoço
e sua sina



Poemas extraídos do livro Divagações. Parnaíba: Edição do autor, 2007. 130 p.