DIEGO MENDES SOUSA
Nasceu em Parnaíba, Piauí, em 1989. Começou a escrever poesia aos quatorze anos de idade e, aos dezessete, acaba de lançar o livro Divagações. Estudante do ensino médio, se intitula “leitor consuetudinário”, amante da música erudita, da pintura e admirador de Ferreira Gullar e Gerardo Mello Mourão, duas ascendências poéticas que levitam em esferas bem distintas, apontando para direções opostas... Ótimo para um jovem poeta tão reflexivo, plástico, esperpêntico. Ousado, nada trivial, não raras vezes amargo e perquiridor, sem indulgência. É a revelação de um talento que merece atenção, a quem auguramos um crescimento constante. Ele tem todas as condições, como revelou no livro de estréia. Antonio Miranda
“Diego é um poeta solitário, introspectivo e arredio por natureza. A angústia existêncial que às vezes o atormenta é revelada em “Candelabro”, poema comovente e de grande sensibilidade.” Tarciso Prado
VERTIGEM
A poesia desinfetou as entranhas
de
meu estômago
agora vomito como
restos sólidos
depois catarei essa
e
aquela
palavra
impulsarei na sintaxe
o de sobra
voltará à vertigem digestiva
VAIDADE
Esta pele morena
não é feita de ouro
O suor do corpo
contrapala
a côndea lisa:
Uma do homem presente
do tato presente
outra
Onde só os mais dotados
de sensibilidade
entenderão
a natureza-fátua e
frívola
desse homem
ainda nascente
OBSERVAÇÃO
O vento corredio passa engraçado
pelas árvores
dando-lhes os movimentos
e os pássaros
saltam
as trincheiras da brisa de outros nortes
Cantando tudo dentro de seu possível
como pardais
audíveis
por toda manhã
PECHA
Como macilenta
pode ser minha imagem?
E concluo:
não são banais
os coriscos
as nuvens
os penedos
inerentes à minha pessoa
Apenas são defeitos
CANDELABRO
Dói-me o peito
Queima-me a alma
esta solidão reclusa
Não por querer viver
nesta orla-névoa
albicante como meu rosto
Se por medo da morte
Se por medo da perda
desta vida sob velas
Uma noite...
... Não serei solidão
não serei solidão
quando o candelabro
for sereno
ao apagar-se
SINA
Libertei-me
da revelia
indivisa
de indivíduos
pródigos
engrenando
dentro
da afabilidade matinal
Freme
no sabor
prateado
de estar vivo
a clamar
a exortar
a ascensão
de um poema
de uma flama
no elevadiço interior
onisciente
e díssono
que ata
o poeta
pelo pescoço
e sua sina
Poemas extraídos do livro Divagações. Parnaíba: Edição do autor, 2007. 130 p.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
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